“O que é isso companheiro? Eu deliro o dia inteiro”: Escola de samba “Eu Sou Tamtam” embala centenas de pessoas pelas ruas de Belo Horizonte em desfile pela Luta Antimanicomial

Publicado em 01/06/2025

“Ainda Lutamos Aqui: Contra os golpes dos opressores, pela louca revolução, a anistia não é a solução!” foi o lema do desfile que marcou o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, comemorado em 18 de maio. Neste ano, em Belo Horizonte, a tradicional mobilização ocorreu na sexta-feira, 16 de maio, percorrendo ruas e avenidas da região central da capital mineira e o CRESS Minas esteve presente.

O samba-enredo que animou o ato deste ano, intitulado “Baseado em fatos reais”, foi construído por usuárias e usuários do Centro de Convivência Oeste e Centro de Convivência Barreiro. O processo de decisão da música-tema do desfile começa no início do ano, quando a marcha é toda discutida e definida juntamente com a população usuária, familiares e trabalhadoras da Saúde Mental.

Segundo a vice-presidenta do CRESS-MG, Gláucia Batista, que todo ano acompanha este ato que reúne centenas de pessoas e já faz parte da agenda política da capital mineira, “o desfile é um espaço pedagógico, pois ajuda a conscientizar a sociedade sobre a importância do cuidado em saúde mental sem prisões”.

Cheios de criatividade, os sambas-enredos do desfile trazem críticas atuais à sociedade e sempre reforça a ideia de que o cuidado e os tratamentos na política de Saúde Mental, devem garantir liberdade e autonomia a quem recorre aos serviços, conforme defende a Reforma Psiquiátrica, movimento com forte presença de assistentes sociais. Confira a seguir a letra de 2025:

Baseado em fatos reais

Desculpe o transtorno

Estamos delirando

A fantasia que constrói o amanhã

A utopia que ainda está aqui

Sempre fui de resistir

Eu sou Tam Tam

Desculpe o transtorno

Estamos delirando

A fantasia que constrói o amanhã

A utopia que ainda está aqui

Sempre fui de resistir

Eu sou Tam Tam

Baseado em fatos reais

O filme que eu vi não tinha ator

Muita violência e muitos ais

A trilha sonora era só grito de dor

Versão brasileira da opressão

Terror à luz do dia

Mas a minha revolução

É louca por ter alegria

Reescrever o roteiro

Onde o povo brasileiro

Tenha um final feliz

O que é isso companheiro?

Eu deliro o dia inteiro

Pra curar a cicatriz

Serviço Social nessa luta

A Luta Antimanicomial defende os direitos de pessoas que passam por algum sofrimento mental a partir de uma lógica que respeita sua autonomia e sua liberdade e alinha-se, ainda, à ideia de que essa população tenha o direito a viver em sociedade e ser atendida e cuidada com respeito e dignidade, sem abrir mão de sua cidadania.

Para isso, enfrenta-se a lógica perversa dos decadentes manicômios e dos chamados hospícios, que trancafiavam, isolavam e violavam os direitos humanos, substituindo-a por um modelo de cuidado em liberdade de atenção em Saúde Mental a partir de serviços abertos, comunitários e territorializados, que acolham população usuária e família.

Essa é a ideia da Reforma Psiquiátrica, cujo debate chegou ao Brasil no final da década de 1970, e revigorado em 2001, com a aprovação da Lei 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em Saúde Mental, apontando o fechamento de manicômios e hospícios, sendo substituídos por Centros de Atenção Psicossocial (CAPs).

Leia mais

Caderno “Assistentes sociais no combate ao preconceito, abordando o estigma do uso das drogas”.

Relatório Serviço Social e a inserção de assistentes sociais nas CTs.

Manifestos sobre a temática.

Roda de Conversa Luta Antimanicomial: Assistentes Sociais em Defesa dos Direitos Humanos

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