Em instituições públicas ou privadas: como combater o racismo de maneira efetiva, no cotidiano profissional?

Publicado em 25/11/2025

O racismo, reconhecido como marca estrutural da sociedade brasileira, está presente nas relações sociais, nas instituições e nas políticas públicas. Essa realidade afeta diretamente a vida da população negra e indígena, refletindo-se nas desigualdades de acesso a direitos e serviços. Ou seja, no objeto de trabalho das e dos assistentes sociais: as expressões da questão social. Portanto, o Serviço Social é um campo privilegiado para identificar práticas de resistência e enfrentamento, assim como para reconhecer situações em que o racismo segue sendo reproduzido.

Para entender como essa pauta dialoga com a dimensão técnico-operativa da profissão, conversamos com Gabriele Ponciano, assistente social, doutoranda e mestra pelo Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pesquisadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Fundamentos, Formação e Exercício Profissional em Serviço Social – Gefepss da UFTM, registrado no Diretório de grupos de estudos do CNPq. 

Para a estudiosa, articular a dimensão técnico-operativa às demais dimensões da profissão possibilita sustentar uma intervenção em que o antirracismo esteja na base. “Esse contato direto entre a população atendida com profissionais no espaço sócio-ocupacional possibilita instrumentalizar o antirracismo de forma estratégica, potencializando, tanto entre a população usuária, quanto na equipe técnica, o desenvolvimento de uma consciência antirracista”.

O Brasil foi erguido sobre uma base colonial escravista, sustentada pela exploração de povos indígenas e da diáspora africana. “Ao valer-me dessa concepção histórica, todo o meu fazer profissional parte de um crivo antirracista que fundamenta as mais diversas possibilidades interventivas, isto é, na elaboração, implementação, execução e avaliação de políticas sociais, seja na administração pública, direta ou indireta, em empresas, entidades ou organizações populares”, pontua Gabriele.

Estratégias para combater o racismo institucional

Na visão da assistente social, a prática antirracista exige constante adensamento ideopolítico. “É um exercício diário e se dá através da identificação e articulação das forças progressistas verificadas no âmbito institucional, mas, sobretudo, com os sujeitos e segmentos populares que de forma organizada ou não enfrentam o racismo em seus bairros, trabalhos, serviços públicos”.

Para a profissional, conhecer de perto as populações e seus territórios é um elemento central. “É nesse cenário que é possível identificar formas de resistência antirracistas, as quais podem ser potencializadas nos mais diversos espaços profissionais. Nossa intervenção se inscreve nesse contexto, articulada com outras áreas, tomando o cotidiano como possibilidade concreta para fortalecer práticas que reconheçam a diversidade étnico-racial enquanto dimensão humana e constitutiva do ser social”.

A entrevistada também chama atenção para a importância de aprofundar sobre a dimensão teórico-metodológica. “Esse aprofundamento se dá por meio de estudos e elaborações capazes de fundamentar e subsidiar a intervenção intencionalmente antirracista. Para tanto, faz-se necessário se apropriar e dar sustentação para resoluções, documentos jurídicos-normativos e produções teóricas”, orienta.

Os processos de planejamento, execução e avaliação do Serviço Social, de acordo com Gabriele, precisam considerar as particularidades do racismo estrutural e institucional. Ao adotar essa perspectiva, ela explica que é importante se ater à lógica da reparação histórica, materializada na adesão a ações afirmativas, que podem ser articuladas a esses processos. 

“No contexto de exploração do capitalismo brasileiro, o racismo é a peça-chave, constituindo uma combinação perversa entre exploração e opressão. Desta forma, compreende-se que a classe trabalhadora nacional possui um perfil étnico-racial que precisa ser considerado nos processos de planejamento, execução e avaliação em que o Serviço Social atua”, completa a profissional.

Vivências e compromissos profissionais

A formação antirracista de Gabriele, que é uma mulher negra, teve início ainda na graduação, no projeto de extensão “Temas Raciais” da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), fundado e liderado pela professora Maria Cristina Souza, falecida em 2024 e homenageada pelo CRESS Minas, na ocasião.

“Foi a partir dessa experiência que passei a me aprofundar na temática racial, o que se refletiu em outras vivências, tanto no âmbito institucional quanto na militância, a princípio estudantil e, posteriormente, no movimento negro, por meio do coletivo negro classista Minervino de Oliveira, em Uberaba”.

Na trajetória profissional, a atuação no Sistema Único de Assistência Social (Suas) e a participação na primeira gestão do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial (Compir), criado em 2023 em um município do Mato Grosso, foram marcos importantes. Ao detalhar essa experiência, a profissional lembra que o reconhecimento do perfil étnico-racial do município foi fundamental para avançar em ações concretas. 

Entre as iniciativas, estiveram as qualificações de trabalhadores do Suas, oficinas em escolas e formações para educadoras sobre lei relacionadas ao tema. “Em dois anos de atuação, o Compir tem gradualmente fortalecido o antirracismo no município, tarefa que não tem sido encaminhada sem embates com as forças reacionárias que atuam na disseminação da falácia da democracia racial. Contudo, temos seguido atuando na promoção da igualdade racial”.

A assistente social enfatiza, ainda, o papel do diálogo coletivo e do Código de Ética na sustentação da prática. “As experiências mencionadas só foram possíveis por meio do diálogo coletivo, no qual a formação antirracista que venho desenvolvendo em minha atuação profissional encontrou espaço para ser compartilhada e fortalecida à luz dos valores éticos firmados pelo Serviço Social e presentes no Código de Ética de 1993”, destaca.

Vem pensar e criar estratégias antirracistas com a gente!

No 50º Encontro Nacional CFESS-CRESS, em 2023, ficou acordado o incentivo à organização de comitês e coletivos de combate ao racismo no âmbito dos CRESS. Assim, o Comitê Antirracista do CRESS-MG surge como espaço de construção política e de fortalecimento da identidade e diversidade étnico-racial.

O tema é caro para o Conjunto CFESS-CRESS e, em Minas Gerais, o Comitê ganhou materialidade em 2024. O comitê visa promover iniciativas de formação e de enfrentamento ao racismo no exercício profissional, reafirmando o compromisso com o nosso projeto ético-político.

Além disso, terá papel central no debate étnico-racial na prática do Serviço Social, criando um espaço de reflexão e ação. Podem participar assistentes sociais de todas as regiões do estado já que os encontros são online.

Em caso de dúvidas, mande um e-mail para [email protected]   

Conheça mais sobre o CRESS-MG

Informações adicionais
Informações adicionais
Informações adicionais

SEDE: (31) 3527-7676 | [email protected]

Rua Guajajaras, 410 - 11º andar. Centro. Belo Horizonte - MG. CEP 30180-912

Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 19h


SECCIONAL JUIZ DE FORA: (32) 3217-9186 | [email protected]

R. Halfeld, 651. 10º andar, sala 1001. Centro. Juiz de Fora-MG. CEP 36010-002

Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 19h


SECCIONAL MONTES CLAROS: (38) 3221-9358 | [email protected]

Av. Coronel Prates, 376 - sala 301. Centro. Montes Claros - MG. CEP 39400-104

Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 19h


SECCIONAL UBERLÂNDIA: (34) 3236-3024 | [email protected]

Av. Afonso Pena, 547 - sala 101. Uberlândia - MG. CEP 38400-128

Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 19h