Publicado em 18/04/2025
Sob o céu cinza, fruto das queimadas criminosas que se deram em setembro passado, em Belo Horizonte, o Conjunto CFESS-CRESS deliberou, durante seu 51º Encontro Nacional que em 2025 o tema pelo Dia da e do Assistente Social seria o “Serviço Social na luta por justiça ambiental para a diversidade de povos e biomas”.
Neste 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas, o CRESS-MG te convida a refletir o porquê escolhemos como mote dessa campanha, a ideia de que “a gente defende a justiça ambiental para combater a desigualdade social!”. Percorra nesta matéria, o território e a história de uma comunidade indígena a 40 km de Belo Horizonte.
Célia Ãgohó, cacica da Aldeia Katurãma, representa a força da liderança feminina indígena na resistência e reconstrução de territórios e culturas ancestrais.
Liderada por uma mulher, a Aldeia Katurãma é formada por famílias das etnias Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe, e se situa no município de São Joaquim de Bicas. As famílias se tornaram uma comunidade há quatro anos, mas são originárias da Aldeia Naô Xohã que ficava às margens do Rio Paraopeba, no Sudeste Mineiro.
Célia Ãgohó é a cacica da Aldeia e tem uma trajetória de defender os direitos indígenas de quase quinze anos. Vinda da Bahia, na região de Catité, a sua descendência por parte de mãe se dá justamente dos Pataxós-Hã-Hã-Hãe e por parte de pai, sua descendência é não-indígena, vindo de Peçanha.
om raízes Pataxó Hã-Hã-Hãe e uma história marcada pela luta, Célia destaca a importância do respeito às culturas distintas e à preservação dos povos originários.
“O que me fez dedicar de corpo e alma a essa luta é ser filha de indígena e de não indígena, ou seja, sou filha de dois povos e quero mostrar que podemos ser pessoas com culturas distintas e, mesmo assim, aprender a conviver e a respeitar o diferente”, conta a cacica.
Crime ambiental da Vale
Em 2019, o crime ambiental provocado pela Mineradora Vale, em Brumadinho, atingiu sua aldeia, e seu marido, então cacique, optou por abandonar o cacicado. Embora Célia soubesse que não seriam fáceis os embates contra “os peixes grandes” da mineração, foi escolhida pela comunidade como a Cacica de Katurãma.
Na época da tragédia, a comunidade residia às margens do Rio Paraopeba e sofreu com a contaminação do afluente, o que afetou suas atividades produtivas e práticas culturais. Além disso, moradoras e moradores ficaram sem água e passaram a ter intoxicações, problemas respiratórios e alergias causadas pelo rio que fora afetado.
Para salvar a comunidade, Célia Ãgohó liderou um grupo de 30 famílias na busca por um território saudável. Viveram no Bairro Jardim Vitória, Região Nordeste da capital e sobreviviam vendendo artesanato e recebendo um auxílio da mineradora por conta dos crimes cometidos, mas que em 2021, deixou de existir.
Neste mesmo ano, com o apoio da Associação Mineira de Cultura Nipo-Brasileira (AMCNB), a comunidade recebeu a cessão de uma área conhecida como Mata do Japonês, onde estabeleceu a Aldeia Katurãma. Desde então, as famílias têm se dedicado a proteger e recuperar essas terras, enfrentando ameaças de grileiros.
As habitações da Aldeia Katurãma, chamadas de quijemes, simbolizam a reconstrução de um novo lar após o crime ambiental que afetou o território anterior.
“Quando chegamos aqui, tinha grileiro queimando, derrubando árvore. Eram carros e mais carros entrando e saindo para explorar a Mata do Japonês. Com a nossa chegada, fica mais evidente e necessário reflorestar a área degradada”, explica a liderança, ciente de que onde tem povo indígena, tem preocupação com o ambiente.
A mata faz parte de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), pertencente à AMCNB que negociou com a aldeia um acordo para cessão e compromisso de compra e venda das terras. Haveria doação de 70% do terreno e os 30% adquiridos e quitados futuramente, com recursos que a comunidade espera receber da Vale, como indenização para reparar os danos morais e materiais.
Essa concessão beneficiou tanto a associação quanto as e os indígenas, já que a área ocupada vinha sendo invadida por pessoas que faziam loteamentos ilegais e os vendiam a terceiros. O grupo, portanto, liderado pela cacica, foi aos poucos se reerguendo com o necessário para eles e à sua sobrevivência.
Patxohã e a preservação da cultura
Célia vem, ainda, buscando reparação pelos danos causados pelo desastre de Brumadinho através de iniciativas que promovam a cultura e as tradições de seu povo. A aldeia conta atualmente com escola poliglota, onde patxohã, português, espanhol, inglês são ensinadas, e um posto de saúde, refletindo o compromisso da liderança com o bem-estar e a preservação cultural da comunidade.
Frase em destaque na aldeia Katurãma reforça a importância da alimentação saudável como parte da luta por justiça ambiental e bem-estar da comunidade.
“A aldeia hoje já tem escola, tem os quijemes, como são chamadas as habitações pataxós, e tem também a construção de um posto de saúde e casa de medicina tradicional da etnia”, que como ela explicou, está sendo construída com o formato de tartaruga por representar um dos animais mais longevos da Terra.
Com o embate contra os grileiros, Célia e seu marido passaram a integrar um programa de proteção de defensoras e defensores de direitos humanos. A cacica compara este cenário de conflitos com o tempos em sua antiga aldeia, e acredita que se houvesse mais justiça ambiental, seria possível viver com mais tranquilidade.
Melhorias dentro da comunidade
Entre as maneiras de criar no terreno um território indígena, será criado o Centro de Referência para comercializar a produção artesanal e agrícola da aldeia. Além de contribuir para a geração de renda e autonomia, a iniciativa irá auxiliar nas estratégias de inclusão social, preservação ambiental e das tradições culturais.
O espaço será um complexo projetado para garantir a sustentabilidade em recursos hídricos e energéticos, como sistema de tratamento de efluentes, de abastecimento de água, de captação de águas pluviais e o uso de usina fotovoltáica para eficiência energética.
“São muitos planos. Estamos organizando a construção de um museu, com formato de cocar e de uma quadra sintética para a prática de esportes na comunidade”, diz a cacica. Além do acesso a direitos sociais, ela entende que a igualdade social de um povo originário perpassa por ter possibilidades de gerar renda.
Crise climática
“Hoje, na cidade em que se situa a aldeia, há um projeto que debate os impactos das mineradoras no meio ambiente e há indígenas da nossa aldeia como do conselho. Faço palestras fora do país sobre a crise climática e mês que vem vou para um dos maiores encontros na Itália para falar sobre esta situação”, conta Célia.
A arte presente na aldeia celebra a ancestralidade e fortalece o sentimento de pertencimento e identidade das famílias indígenas de Katurãma.
Para a cacica, a sociedade em geral precisa apoiar os povos indígenas e conhecer as aldeias perto de onde vivemos, é um bom primeiro passo para conhecer a realidade dessas populações e perceber que os empreendimentos que acontecem a todo o momento, impactam vidas indígenas, ribeirinhas e também nas urbes.
“Está previsto um empreendimento que irá afetar a bacia hidrográfica que abastece a região metropolitana de Belo Horizonte, a bacia do Rio Manso. Isso vai interferir na nascente que fornece água para a capital e todo seu entorno. E como se vive sem água?”, alerta.
Com a intrínseca relação dos povos originários com a natureza, entendendo-a como sagrada, a cacica reforça. “Quanto mais pessoas entrarem nessa luta, mais a Mãe Terra agradece e mais a biodiversidade desse planeta sobrevive. E o consumismo tem nos matado, se não mudarmos isso logo, será tarde demais”.
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